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sábado, 6 de maio de 2017

Antibióticos com fim nutricional: produção controversa


Folha Londrina/Rural (*)

Usado para aumentar a eficiência alimentar na produção de carnes, o medicamento fomenta o debate da classe científica de que poderia ocasionar o surgimento de superbactérias


Antibióticos fazem parte da vida da população no combate a doenças, que vez ou outra, atrapalham nossa saúde e são receitados via indicação médica. Mas quando se trata da produção de carne – principalmente aves e suínos e, em segundo plano, bovinos em confinamento – essa classe de medicamentos está além dos fins terapêuticos: são utilizados para aumentar a eficiência alimentar, ou seja, ganho de peso dos animais por meio dos antibióticos promotores de crescimento (APC).


Se tais aditivos são fundamentais para a cadeia produtiva - já que o desenvolvimento dos animais fica muito mais eficiente - por outro lado, o uso indevido nas dietas pode ocasionar o surgimento de superbactérias resistentes às drogas, com possibilidade de gerar inclusive um impacto violento nos seres humanos. A discussão, inclusive na literatura científica, é quente sobre o assunto. Nos Estados Unidos, por exemplo, 70% dos antibióticos são utilizados de forma preventiva em animais saudáveis, tanto para combate profilático de infecções como no foco alimentar. Uma prática considerada controversa.

Um estudo recente intitulado "Review on Antimicrobial Resistance", encomendado pelo governo inglês, projeta que mais de 10 milhões de pessoas devem morrer anualmente infectadas por superbactérias até 2050. O pesquisador Jim O’Neill, responsável pelo estudo, recomenda "reduzir drasticamente o uso desnecessário de antibióticos na agricultura e pecuária". De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ameaça global de infecções é clara e hoje já se chegou na "era pós-antibióticos", ou seja, a população voltou a estar suscetível a doenças antes controladas.

A seriedade do assunto já reverbera há algum tempo nos consumidores pelo mundo, que não querem se alimentar de proteínas cujos antibióticos são utilizados de forma constante nos animais. A rede de fast food Mc Donald's, por exemplo, desde o ano passado deixou de comprar, nos Estados Unidos, frangos criados com antibióticos. A Cargill segue a mesma linha e ano passado anunciou que pretende reduzir em 20% o uso do aditivo no rebanho bovino em território americano. A União Europeia também proibiu antibióticos para tais fins desde 2006, também pensando numa proteção de mercado.

Geraldo Balieiro Neto é pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Segundo ele, na alimentação com o uso de antibióticos são utilizados 180 miligramas do produto por quilo de carne para suínos, 280 miligramas em aves e, no caso de bovinos, 45 miligramas, apenas no caso de confinamento. "Entre 70% a 80% da produção de antibióticos mundial é utilizada na produção animal e de alimentos. A maioria deles como promotor de crescimento. É uma demanda constante, durante o ano todo. Não acredito que se trata de um uso indiscriminado, mas talvez indevido. Afinal, não utiliza-se para fins terapêuticos, mas produtivo. Isso pode comprometer demais essa ferramenta muito importante para o homem".

Para o pesquisador, existe a tendência real do Ministério da Agricultura (Mapa) alterar o registro de antibióticos para "medicação com uso terapêutico", necessitando da prescrição do médico veterinário e passando a ser administrado pela água ou via injetável, encarecendo a sua utilização.

Caso esse novo sistema de regulação e monitoramento seja proposto – alterando os critérios que permitem o uso de antibióticos como aditivo alimentar – isso implicaria em perdas de 12% a 15% no ganho de peso dos animais. "Os antibióticos melhoram a eficiência alimentar, com um mecanismo de ação que até hoje não foi totalmente esclarecido. Foi descoberto por acaso quando se tratou o animal com fins terapêuticos e percebeu que ele ganhava mais peso. É um efeito de microrganismos no sistema digestivo, que causou um aumento de absorção de nutrientes e de alguma forma selecionou os microrganismos que ajudam na digestão e absorção. À partir daí começou a ser utilizado com esse objetivo".

Por fim, Balieiro não tem dúvidas de que a tendência do mercado mundial é encontrar aditivos que substituam os antibióticos e gerem resultados tão eficientes quanto eles. Ele informa, inclusive, que no início do ano, a APTA divulgou o desenvolvimento de um produto natural inédito – primeiro no Brasil - para substituir os antibióticos na dieta dos ruminantes. "Hoje, em congressos e na pesquisa, só se fala em manter os mesmos níveis de produção com o mínimo uso de antibióticos".

(*)Victor Lopes

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